E
sua majestosa voz ecoou pelo alto, pelo embaixo, pela esquerda e a direita,
pelo a frente e o atrás, pelo envolta. Por determinação do pai - mãe de Todos,
uma nova religião nasceria sob solo brasileiro. Era sua filha mais nova, a
Umbanda.
E
um verdadeiro rebuliço começou no Orum, pois logo o mais respeitado dos Orixás
se ergueu de seu Trono e disse que ele seria o responsável e sustentador maior
da religião. Oxalá abençoava o nascer da mais nova filha de Olorum, e a assumia
dos Seus Divinos Braços. Nela a espiritualidade e a fé estariam presentes, como
aceleradora da evolução de todos. Não existiriam dogmas, e apenas um grande
fundamento: Amor e Caridade.
E logo começaram a chegar os Orixás, todos
também abençoando e apadrinhando a nova filha de Olorum. Ogum e Iansã, os mais emocionados de todos,
diziam que protegeriam a nova religião com as armas da Lei.
E então a voz trovão de Xangô ecoou, pelos
quatro cantos do Orum, dizendo que ele seria a Justiça a favor de todos. Sua
palavra seria Lei, e todos os filhos de Umbanda nada temeriam, pois todos são
filhos de Rei, o Rei Xangô.
Também
apresentou a todos sua mais nova esposa, Egunitá a quente irmã mais nova de
Iansã. Ela que era “fogo puro” encantou a todos, e disse que protegeria a
Umbanda.
E assim a filha mais nova de Olorum ganhou
seus dois padrinhos: a Lei Maior e a Justiça Divina.
Mas algo engraçado aconteceu. Muitos espíritos
vindos de um dos muitos bairros do Orum, Aruanda, disseram que eles seriam os
trabalhadores e a linha de frente da religião, além de assumirem a condução dos
médiuns umbandistas.
Oxalá que é o senhor das formas, e pai da
Umbanda, consentiu e determinou que por homenagem ao povo negro e indígena
todos assumissem a forma de Caboclos e Pretos-velhos.
E
logo chegou Oxóssi de uma de suas muitas caçadas, e assumiu toda a linha de
Caboclos, tornando-se o Rei dos Caçadores. Distribuiu um diadema a todos
consagrando-os como caboclos. Todos os caboclos trazem até hoje o diadema ganho
do Rei das Matas.
E o velho Obaluayê junto de Nanã abençoou
todos os espíritos anciões que se consagravam ao trabalho da linha de
pretos-velhos. Concedeu a eles a sabedoria que só o passar do tempo pode
conceder. E todos se transformaram em ótimos conselheiros e curadores,
principalmente das chagas da alma.
E por falar em tempo, ele também estaria
presente. Oyá-Tempo (xará de Iansã – Oyá), seria responsável pelas forças do
tempo dentro da nova religião. E como ela é muito observadora e, vamos dizer,
bastante desconfiada, seria a guardiã da fé e dos processos da religiosidade. E
"ai" de quem pisasse na bola da religiosidade. Lá estaria Oyá com seu
olhar congelante...
Iemanjá que é uma “mãezona" queria que todos os espíritos
que se manifestassem para a caridade pudessem ser aceitos no ritual, sabe como
é, "em coração de mãe sempre cabe mais um". E assim ficou decidido,
pois ninguém tem coragem de negar um pedido da encantadora Rainha do Mar. E a
Umbanda acolheria a todos, caso viessem para prestar a caridade. Surgiam então
as muitas linhas de trabalho, como baianos, marinheiros, boiadeiros e os muitas
vezes renegados pelo próprio povo de origem, os ciganos...
E de repente apareceu Oxum, perguntando que
festa era aquela. Quando ficou sabendo que era o nascimento da mais nova filha
de Olorum, começou a chorar e a abençoou com suas lágrimas que caíam de seus
olhos como duas enormes cachoeiras. (Ela é muito chorona, mas não gosta que a
gente fale sobre isso...)
E
de presente a ela, chamou Oxumaré, que transformou tudo em cores e disse que
renovaria e embelezaria tudo com seu axé colorido.
E
junto do seu arco–íris vieram os encantados da natureza, as crianças que seriam
a alegria da Umbanda.
O
“time” estava quase completo, quando da terra surgiram o amado Tata Omulu e
Obá. Não muito sorridentes, para falar a verdade bem sérios e um pouco secos,
disseram que também fariam parte da nova religião. Que queriam ver seus cultos
renovados, e que seriam a força do elemento terra. Obá que depois de muitas
desilusões nada mais queria com Xangô, resolveu unir–se a Oxóssi, e ajudá-lo a
disseminar o conhecimento.
Omulu que é muito calado colocou-se ao lado de
Iemanjá, dizendo que a guardaria por todo o sempre. Na verdade, até umas
lágrimas foram vistas cair de seus olhos, negros como a noite. Ele é meio
incompreendido, mas quem o conhece sabe que é o mais amoroso dos Orixás.
Todos estavam comemorando, quando não se sabe
direito porque uma confusão começou, e ninguém mais sabia o que iria fazer.
Oxalá que muitas vezes já tinha sido enganado por “ele”, não seria novamente.
Logo disse:
-
Laroiê Exu! Você também é convidado a participar da nova religião. Será
responsável pela esquerda de todos. Mas vai ter que seguir as Leis de Xangô, e
será acompanhado de perto por seu querido irmão Ogum!
Uma
gargalhada soou por todo Orum, e Exu apareceu. Junto dele a mais bela moça,
Pomba-gira. Exu ficou feliz, disse que agora teria Pomba-gira para dividir seu
trabalho, mas que não abriria mão de ser sempre o primeiro a ser firmado. Não
porque ele era aparecido, mas sim porque era ele quem guardaria os templos e
casas de Umbanda.
E
muito esperto que era, disse:
-
Olha, eu vou supervisionar o trabalho junto com Pomba-gira. Mas vou deixar uns
espíritos trabalhando com a minha força fazer o trabalho. Afinal, o que o homem
faz o homem que desfaça. E também o meu irmão Oxóssi é senhor da linha de
Caboclos, porque eu não posso ser senhor da Linha de Exu?
Bom, começaram umas discussões, mas acabou
acertado que o Orixá Exu atuaria na Umbanda, a partir de sua linha de trabalho.
Seria a linha que faria o trabalho pesado, além de serem os guardiões dos
médiuns, e dos templos de Umbanda.
E assim todos os Orixás muito emocionados deram
as mãos e começaram a orar pelo sucesso da mais nova filha de Olorum.
E
então o Pai e Mãe de Todos se manifestou:
“Meus amados filhos Orixás, a Vós eu consagro
minha filha nova e dileta, a Umbanda. Que ela transforme–se em uma religião
semeadora de luz, amor e caridade. Que seja espiritualista e universalista, que
esteja aberta a todos de bom coração. E que em sua pedra fundamental esteja
escrito o seu único dogma: Amor e Caridade!”
E
de Si Sete intensas irradiações partiram, e envolveram sua filha querida. Todos
se emocionaram e agradeceram a Olorum por essa bênção à humanidade.
Quase
cem anos se passaram, e a Umbanda cresceu um bocado.
Transformou–se
um uma linda jovem, amorosa e alegre. Amparada por seu Pai Oxalá, e seus
padrinhos, a Lei Maior e a Justiça Divina, ela vai vencendo todos os
obstáculos.
Os
seus trabalhadores conquistaram o coração das pessoas.
Todos
correm para escutar a palavra de sabedoria do preto–velho, ou a conversa pura e
alegre da criança.
Os
Caboclos transformaram-se na linha de frente da Umbanda, trazendo as qualidades
dos nossos amados pais e mães Orixás. Onde existe um Pena Branca, lá está a paz
e serenidade de Oxalá. Onde trabalha um Sete Espadas, estão os olhos da Lei.
Exu
e Pomba-gira se fizeram presentes tornando-se sinônimos de proteção e
cumprimento da Lei, seja na seriedade do Tranca-Ruas, no olhar penetrante do
seu Capa Preta, ou na força da Rainha Maria Padilha.
Todos
os espíritos podem se manifestar para a caridade, como um dia pediu a “mãezona”
Iemanjá, surgindo assim a alegria dos muitos “Zés” que trabalham na Umbanda.
E
principalmente a Umbanda tornou-se sinônimo de amor e caridade, de luz e
evolução espiritual.
Esse texto é apenas uma fábula, uma lenda ou um Itan, que
presta também sua homenagem à filha mais nova de Olorum. É um pedido para que
enfim as pessoas entendam que existe algo maior que a “minha” ou “a sua”
Umbanda. Simplesmente existe A UMBANDA, filha querida de Olorum, que encanta a
todos os Orixás, e enche os olhos do velhinho e amoroso Oxalá de lágrimas de
felicidade e amor...
(Fernando Sepe e Alexandre Cumino, em homenagem a Umbanda, essa linda religião
universalista, doada a todos nós pelos amados Pais e Mães Orixás).
Nenhum comentário:
Postar um comentário